A vida de um gaúcho
Cultura e tradição sempre estiveram muito presentes dentro de mim. Adoro ser do Sul do Brasil, da América Latina, gaúcho e sul-americano. Levo sempre comigo, onde quer que eu vá, minhas raízes. Para qualquer lugar do mundo, até mesmo na esquina de casa, meu mate amigo e companheiro me acompanha; mas nem sempre foi assim.
Demorei até os 17 anos de vida para iniciar, por livre e espontânea vontade, a prática de matear. Não havia o hábito em minha família, a não ser pela senhora que ajudou a me criar e que também foi uma mãe para mim; ela sim, mateava do romper da aurora até o sol já ter se deitado além do horizonte há muito tempo. Dei-me conta de que seria essencial para mim, então um guri, que o mínimo que um gaúcho deveria ter em seu ritual de vida era a prática de matear.
A inspiração e mediação da Yerba Mate
O Chimarrão, ou Mate, assim mesmo com letras maiúsculas, é muito mais do que um simples hábito. Apreciado solito, ou entre amigos e pessoas que amamos, essa riquíssima tradição vivida diariamente por milhões de pessoas do cone Mercosul faz-nos ainda mais hermanos ao compartilhar dessa cultura ancestral, indígena, local e saudável. O hábito de passar a cuia de mão em mão e dividir as alegrias, angústias, ideias, emoções e sentimentos é algo que aproxima as pessoas e serve também como uma válvula de escape e baita fonte de inspiração e meditação quando praticado consigo mesmo.
A aprendizagem é simples, mas nem tanto…Na primeira grande viagem para outros pagos, com a mateira a tiracolo e um grande amigo ao lado, levei um laço das ervas moídas muito finas, da bomba entupida, da água que ficou morna e da cuia que virava. Tudo isso era rapidamente esquecido quando o mate dava aquela rica e alta roncada anunciando que tudo tinha se ajeitado e que daí para a frente era só alegria! Esses detalhes que volta e meia dão errado são corriqueiros e normais para qualquer mateador aprendiz e desaparecem com o tempo e a expertise em preparar um belo amargo.
A arte de receber visitantes e a arte de preparar o mate
É curioso como cada pessoa tem seu próprio estilo de matear. Desde a cuia até o tipo de monte, a bomba que usa e a temperatura da água. Essas sutilezas são tão determinantes e pessoais que torna impossível um mate ser igual a qualquer outro. Como se diz aqui de onde venho: “na casa de um bom gaudério sempre tem erva nova e água pronta para receber um visitante”. A arte de receber está diretamente ligada à arte de servir um bom chimarrão; para mim é algo que anda de mãos dadas.
O poder de um bom amigo
Assim como tudo na vida, as cuias vão ficando pelo caminho. Chega um momento que sentes que chegou a hora de desapegar de algo sagrado que te acompanhou por anos e ir atrás da próxima Holly Cuia que vai te fazer parceria no futuro. Não é fácil, pois a relação tornou-se muito íntima entre tu e o teu porongo. Só vocês dois sabem o quanto foram importantes um para o outro. Faz parte, mas segue o baile!
A gente nunca esquece de um bom chimarrão. Sabemos, só de olhar, antes mesmo de tomar, se o mate está bom ou não. Sendo nativo do estado do Rio Grande do Sul, último estado ao sul do Brasil, temos ainda o apego de a cuia tradicional utilizada no chimarrão gaúcho ter grande semelhança com o formato geográfico do nosso estado trazendo-nos assim a sensação de que aonde quer que a gente vá, levamos dentro da palma da mão nossa cultura e tradição. É quase como um reconhecimento de identidade, quando encontramos algum conterrâneo sul-americano em algum lugar do planeta com uma cuia na mão e garrafa térmica embaixo do braço. Faça chuva ou faça sol, esteja quente ou frio… não interessa. Quem chimarreia mantém o hábito e a tradição de pelo menos 1 ou 2 mates tomados ao longo do dia. Se a roda for grande ou se o papo for muito bom, logo logo se calienta mais uma chaleira de água e apronta-se um novo mate.
A chaleira me chama
Bueno, eu passaria a semana falando e idolatrando esse hábito e cultura que tanto aprecio, mas já está na hora de desligar o fogo no fogão. A chaleira chia me chamando, avisando que está na hora. O mate está pronto, bem cochado, bem feito e no meu aguardo. Neste momento estou em processo de inaugurar uma nova cuia. Ela já achou o encaixe dentro da mão e o seu espaço em minha vida. Pretendemos viajar muito juntos e continuar a servir um rico amargo para minha esposa e amigos que frequentemente pedem:
“Faz um mate aí, Nandão!”
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